quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Ignorância inteligente



Para mim os formadores de opinião, como os colunistas, devem saber mais do que qualquer cidadão comum sobre um fato. São esses privilegiados que com sua competência e coerência fornecem subsídios para que muitas pessoas formem suas opiniões.

Tomei um susto ao ver a falta de conhecimento do fato ocorrido na Bolívia por um articulista que até certo ponto respeitava: Arnaldo Jabor

Todos que estão bem informados sobre a questão da mudança da capital da Bolívia, sabem que é uma revolta burguesa. A classe bem remunerada do país quer a mudança da capital para a região mais rica. Mas o que isso tem de relevante para um país pobre?

Bom, para o Jabor isso é motivo para crucificar Evo. Ainda mais sendo ele, grande amigo de Chavez. Isso basta para o colunista do Jornal da Globo!

Acompanhe o texto:

Evo Morales segue o destino previsível, óbvio, de todas as ditaduras em marcha na América Latina.
Sempre começa com as bravatas de nacionalismo, de banir o inimigo imperialista, que aliás somos nós, o gigante.
Depois o caudilhismo começa a fazer água, pois a burguesia empresarial sabota, para de investir e a crise econômica se inicia.
Aí vem a repressão, a porrada, os Evos e outros aumentam a radicalização até que a quebra da economia se abate sobre o país e começa o novo ciclo em que o possível ditador acaba caindo, com o atraso voltando atrás, porque a idéia de progresso que a tradição de índios e populistas tinham era mais atrasada que o atraso das elites brancas.
Por trás dessas pseudo revoluções existe a antiqüíssima fé, herdada das teocracias sacrificais da época dos Incas, Maias e Aztecas: deuses no poder exterminados pelos espanhóis. Auto sacrifício e extermínio. Na Bolívia já recomeça o ciclo. Na Venezuela também já esta morrendo gente.
A única diferença é que agora há muita grana de petróleo e armas do Chávez e esse circulo vicioso pode ser o início de um banho de sangue, de uma horrenda tragédia na América Latina. Que espero, fique só entre os cocaleros e bananeros e não chegue até nos, os macaquitos.


sábado, 3 de novembro de 2007

Bretão e com criatividade

Como nascem bandas na Grã-Bretanha! Ultimamente tem surgido tantas bandas que, infelizmente, se criou um estereotipo com as mais recentes: “É mais uma bandinha inglesa”. Admito que muitas dessas se encaixem perfeitamente no rótulo, porém todos sabemos que qualquer generalização é mentirosa.

Por isso, vou falar de uma banda nova banda, que para mim, tem um estilo próprio e diferenciado: The Fratellis.

A banda é formado por Jon Fratelli, Barry Frateli e Mince Fratelli. Fratelli de verdade apenas o baixista Barry, que emprestou seu nome aos companheiros de banda, criando a família The Fratellis.

Os escoceses tem alcançado uma boa repercussão na mídia especializada. Fazem apenas dois anos do seu primeiro show, e o trio de Gasgow já tem um álbum com 3 singles: Costello Music. É uma álbum leve, irreverente e com uma identidade própria, sem deixar de lado o tradicionalismo de alguns sons como o Blues, Folk e Country.

Uma das principais características da banda revela sua origem bretã: a alegria. Assim como Arctic Monkeys e Franz Ferdinand, o The Fratellis é um bom motivo para não permanecer parado enquanto se ouve.

O álbum Costello Music é formado por 13 músicas, com diferentes pegadas. A música de abertura é “Henrietta”, ela dá tônica do que se encontra no resto do álbum. “Flathead” inicia com uma viola e bateria bem ao estilo folk, mas logo já se mistura com fúria adolescente do Fratellis. Também tem vocais interessantes, o refrão me lembra uma música do Rei Leão ou algo assim.

A faixa 3 é “Cuntry boys e city girls”, lembra uma “surf music” da década de 60, mas com uma pegada rock bem forte. Tem também a simplicidade da balada “Whistle For The Choir” e o jeito country de “Vince The Lovable Stoner”. “Doginabag” é blues com os pés no rock, pouco mais sombrio em relação ao resto do álbum...Sensacional! “Chelsea Dagger” e “Creepin Up The Backstairs” mostram toda a vivacidade e ânimo da banda.

Enfim, o “Costello Music” é um ótimo álbum e com certeza o Fratellis não é apenas mais uma banda Bretã. Para quem não tem preconceito musical, é bem humorado e está aberto a coisas novas e diferentes, o The Fratellis é uma ótima experiência.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Insonância!


Já é tradicional. A madrugada vem, a insônia continua, Jô segue o seu roteiro, enquanto os lixeiros se comunicam aos berros durante a coleta do lixo urbano. O detalhe mais interessante desse fato, é que a linguagem exercida por eles, é totalmente indecifrável para um leigo. Apenas os iniciados no assunto conseguem assimilar os urros, gargalhadas, e balbuciações. Esses sons passam a impressão de felicidade e divertimento. Estranho e incompreensível aos olhos da nossa sociedade capitalista.

Exceto a rotina já descrita antes, a madrugada sempre apresenta alguma surpresa. Surpresas inesperadas, engraçadas, trágicas, eróticas e etc. Certo domingo, não conseguia dormir de jeito nenhum. O lado mais sério de meu cérebro, extremamente irritado pela displicência teimosa do lado criativo, relembrava que segunda era dia de “São Pega”, e que a preguiça não me deixaria acordar no horário determinado.

Enquanto assisto um filme do Van Damme, para ver se surge uma centelha de sono, ouço comprimentos e uma conversa animada. A curiosidade de um insoniado é voraz. Tão logo ouço as vozes, aciono o botão de mudo, calando as lamúrias dos ninjas que apanhavam do dragão branco. Era uma conversa amigável, permeada por gargalhadas sinceras. A conversa vinha da rua, da frente de uma igreja misteriosa ao lado de meu prédio. Em frente a uma pracinha dominada por cachorros e onde nunca vi uma criança. Os amigos se entusiasmam cada vez mais, porém distância da conversa até a minha janela, evita que eu decifre as alegrias bradadas em plenas duas da manhã. Sem entender muita coisa, vou começando a perder o interesse. As agressões do Van Damme me chamam atenção e desligo o mudo. Ouço “pof, soc e catabum”, mas ao fundo, continuo ouvindo os amigos cada vez mais entusiasmados.

Passa intervalo, volta a porrada, a madrugada avança e continua com seu silêncio revelador, só interrompido pelas gargalhadas dos amigos. A alegria alheia já me estava me incomodando. O lado sério dizia “Esses folgados não sabem que preciso acordar cedo amanhã?”, e o criativo respondia prontamente “deixa eles, tu está é com curiosidade!”. Passeio pela vasta gama de canais disponíveis em minha pequena antena. É crente se aconselhando, filme B italiano, venda de jóias, clipe de rap e o Van Damme. Mesmo com todas essas opções, meu sono continuava fugindo. E os amigos não paravam... Foi então, que após um silêncio prolongado ouço o seguinte verso: “Eu caminhei sozinho pela rua...”, cantado em duas vozes, uma delas, a segunda, em falsete. EU NÃO ACREDITEI. Os dois amigos não eram apenas amigos, e sim uma dupla sertaneja. A canção continuou: “Cantei com as estrelas e com a lua, sentei no banco da praça tentando te esquecer, adormeci e sonhei com você. No sonho você vem provocante, me deu um beijo doce e me abraçou, e bem na hora H, no ponto alto do amor, já era dia e o guarda me acordou”. A minha aparente perplexidade se transforma em riso, enquanto a dupla chega ao famoso refrão de Bruno e Marrone.

Não me contenho, abro a janela para ter certeza que é real o que eu estava ouvindo. O mais intrigante de tudo é que eles realmente cantavam bem. Deixo o Van Damme batendo nos seus oponentes em silêncio para melhor ouvir os dois cantantes. A música acaba, mas logo já iniciam outra, e outra, e outra. Meu repertório sertanejo já não conhecia essas canções. Penso em ir até a rua, me oferecer para ser o produtor dessa dupla, com certeza teriam futuro. Enquanto ouço as músicas e penso qualquer coisa, Morfeu vai se esgueirando pelo quarto. Aproxima-se e com a rapidez de um lince me faz pegar no sono. Criatura sacana! Enquanto estou entediado ele se esconde, mas quando encontro algo peculiar e interessante, ele vem e me adormece sem nenhuma satisfação.

Na manhã seguinte, acordo me questionando se realmente presenciei aquilo. Chego à conclusão que não era um fruto de minha imaginação. Sem refletir muito, faço os rituais matinais e vou para universidade. Dia cansativo, nem toco nas reminiscências da madrugada. Quando a próxima madrugada vem chegando, me mantenho atento, esperando mais um ensaio da dupla. Essa madrugada parecia mais monótona. Até os lixeiros não demonstravam a mesma alegria. Espero até enquanto agüento os ataques de Morfeu. Durmo.

Já se passaram meses e a dupla nunca mais se apresentou enfrente a igreja, tornando mais intrigante o ocorrido. Madrugadas se sucedem e outras passagens de realismo fantástico se apresentam. Mas até agora, nenhuma tão estranha como está.